sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Opinião - Os Despojados I e II

Ficha Técnica:
Autor: Ursula K. Le Guin
Título Original: The Dispossessed
Páginas: 156 + 156
Editor: Europa-América
ISBN: 9789721006126 e 9789721006133
Tradutor: Maria Freire da Cruz

Sinopse:
I

No seu romance mais ambicioso e profético, Ursula K. Le Guin realizou um espantoso tour de force: a arrebatadora história de Shevek, um físico brilhante que tenta reunir sozinho dois planetas, separados um do outro por séculos de desconfiança.

Anarres, a pátria de Shevek, é uma lua árida, colonizada por uma civilização anarquista utópica: Urras, o planeta-mãe, é um mundo muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza. Shevek arrisca tudo numa corajosa visita a Urras - para aprender, para ensinar, para partilhar. Mas a sua dádiva transforma-se em ameaça... e no conflito profundo que daí resulta, Shevek é forçado a reexaminar a sua filosofia de vida.


II

Eis que chegámos à segunda e última parte de Os Despojados. Assistimos na primeira parte à ida de Shevek para Urras, um planeta muito semelhante à Terra, com as suas nações beligerantes, grande pobreza e imensa riqueza.

Nesta segunda parte, Ursula K. Le Guin descreve-nos o conflito profundo de Shevek perante uma realidade completamente diferente do seu planeta-pátria, Anarres, dominado por uma civilização anarquista utópica.

Um romance profético e um espantoso tour de force da notável escrita de Ursula K. Le Guin, considerada pela crítica internacional uma escritora inteligente e excelente.

Opinião:
E mais uma vez me deparo com uma situação quase impossível, dar uma opinião acerca de um livro desta senhora. Ursula K. Le Guin escreve de uma maneira fenomenal. Os seus livros não são simples obras de ficção científica, são obras em que os planetas e civilizações criados servem, simplesmente, para fazer um retrato das características da nossa sociedade.

A autora é extremamente hábil ao fazê-lo. É discreta, escreve aquilo que tem que escrever com mestria. As suas mensagens e intenções não nos gritam aos ouvidos, não fazem um alarde de si mesmas. São subtis, infiltram-se peças nossas barreiras psicológicas. Vamo-nos apercebendo daquilo que estamos a ler aos poucos.

Neste livro (porque na realidade é apenas um) a autora apresenta-nos dois mundos muito diferentes, Anarres e Urras. Anarres é a lua de Urras e é habitado por revolucionários que vieram de Urras. Em Anarres não existe um governo, não existem hierarquias, não existe poder. A única "lei" que existe é a entre-ajuda. Cada um deverá contribuir e ajudar a sociedade. Nada é de ninguém. Não existe dinheiro, mas sim um sistema de trocas, o dar e receber. O egoísmo é proibido, qualquer pensamento ou acção que possa prejudicar a sociedade de Anarres e considerada egoísta. Já em Urras existe hierarquia, poder, dinheiro. Ao contrário de Anarres, existe abundância de comida e condições de vida em Urras.

No entanto nem tudo é o que parece. Aos poucos, Shevek, o nosso protagonista, comoeça a aperceber-se que em ambos os planetas existem coisas que não funcionam. Talves por Urras ter um funcionamento tão semelhante ao nosso, foi mais fácil para mim perceber que faltava algo. Flatava o contraste ao luxo, e este acabou por se mostrar de uma forma atroz. Já em Anarres a percepção do que está mal é mais subtil. Mas aos poucos, tanto Shevek como o leitor começam a perceber que o que é chamado egoísmo é uma desculpa para que as pessoas e a sociedade estagnem no tempo.

Supostamente em Anarres as pessoas são livros, mas não livres para pensarem e se dedicarem ao que querem se isso interferir com aquilo que a sociedade acha correcto. Ao mesmo tempo começa a existir um poder subentendido nas mãos de algumas pessoas, o que prova que por muito que tentemos, há sempre alguém que tenta exercer a sua vontade e sabedoria sobre os outros.

Mais um livro excelente que merece ser lido e relido.

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