segunda-feira, 24 de abril de 2017

Opinião - Príncipe dos Espinhos

Ficha Técnica:
Autor: Mark Lawrence
Título Original: Prince of Thorns
Série: Trilogia dos Espinhos, #1
Páginas: 315
Editor: Topseller
ISBN: 9789898839664
Tradutor: Renato Carreira

Sinopse:
Com apenas 9 anos, numa emboscada planeada pelo inimigo para erradicar a descendência real, o príncipe Jorg Ancrath é atirado para dentro de um espinheiro, onde fica preso, com espinhos cravados na sua carne, a ver, impotente, a mãe e o irmão mais novo a serem brutalmente assassinados.
De alma destruída, sedento de sangue e de vingança, Jorg foge da sua vida luxuosa e junta-se a um bando de criminosos e mercenários, a quem passa a chamar de irmãos. Na sua mente há apenas um pensamento, matar o Conde de Renar, o responsável pelas mortes da mãe e do irmão, pelas suas cicatrizes e pela sua alma vazia.
Ao longo de quatro anos, Jorg cresce no seio de batalhas sangrentas, amadurece em guerras impiedosas, torna-se um guerreiro cruel e vai ganhando o respeito dos seus irmãos até que se torna o seu líder. Agora, um reencontro vai levá-lo de volta ao castelo onde cresceu e ao pai que abandonou. O que vai encontrar não é o mesmo sítio idílico de que se lembra, mas o príncipe que agora retorna também não é mais a inocente criança de outrora, é o Príncipe dos Espinhos.

Opinião:
Quando nos encantamos com um personagem do mais sacana que há, mas abominamos muito do que ele faz... É isto que acontece quando conhecemos Jorg, em Príncipe dos Espinhos, logo nas primeiras páginas. Ou pelo menos, no que toca à parte do abominar... O encanto vem com o tempo e alguns abanares de cabeça.

Há que tempos que tinha esta trilogia de Mark Lawrence na minha wishlist em inglês, e foi com grande entusiasmo que a vi ser publicada, cá em Portugal, e a um preço bem mais simpático que o das hardback que queria adquirir. Como podem calcular, este grande passo da Topsseler, foi música para os meus ouvidos. Mas, foi só agora que vi a trilogia completa ser publicada, que me resolvi agarrar ao primeiro volume. E que leitura fantástica foi! 

O universo desta história parece ser o nosso mundo, mas não como nós o conhecemos. Tratar-se-há de um futuro mais primitivo em que nos encontramos de volta aos tempos medievais, já que são referidos vários países conhecidos, ou nomes de terras meio alterados, mas facilmente identificáveis, bem como obras e relatos nada típicos da época supra mencionada. Existem muitas referencias aos antigos "Construtores" (possivelmente o nosso Homem moderno), capazes de grandes obras de engenharia, que os personagens não conseguem conceber, tal como o autor nos descreve em algumas cenas bem engraças com uma espécie de computador e outra com uma estrutura estranha, sem escadas, que parece ter sido em tempos um elevador. Também nos falam de livros antigos com termos estranhos, completamente alheios aos personagens, de cariz cientifico, como por exemplo efeitos mutagénicos causados por certas substâncias.
Espero vir a saber mais sobre estes "Construtores" e o que lhes aconteceu, para desaparecerem da face da terra. Saber porque voltámos a uma época de trevas e retrocesso a nível de conhecimentos.

É neste mundo duro que conhecemos Jorg, o nosso personagem principal, e o acompanhamos no seu percurso sinistro dos 9 aos 14/15 anos. Jorg é príncipe caído, movido pela vingança. É completamente amoral, não tem piedade nem remorsos, parece ser vazio de sentimentos. O que o preenche são sombras, morte e uma desmesurada ambição. É capaz de de grandes atrocidades, em conjunto com o seu bando de "Irmãos", um grupo composto pela maior das escumalhas, com quem elabora os esquemas mais loucos e se joga de cabeça para o abismo.
É um pouco assustador ver tudo o que aquele miúdo é capaz... Aliás, só quando ia sendo referida a sua idade é que me recordava que não estava a acompanhar a história de um adulto cruel.

No entanto, apesar de Jorg ser uma espécie de anti-herói, começa a mostrar, com o decorrer das páginas, que até é capaz de nutrir sentimentos por outros personagens e que vai na volta, até é possível que tenha um pouco de luz no lugar negro e retorcido que é o seu coração, mesmo que com isso se sinta contrariado.
No que respeita a outras personagens, devo dizer que gostei especialmente do Núbio, com a sua pesada besta gravada com caras de Deuses medonhos. Gostei também de ver surgirem Necromantes e criaturas como Leucrotas mutantes, bem como os chamados Bruxos dos sonhos, com os seus poderes de dominar a mente.

Príncipe dos Espinhos foi uma leitura intensa, repleta de batalhas e escaramuças, com momentos bem negros, fortes e sinistros. É uma obra que mantém o leitor agarrado, sempre a querer saber que raio vai Jorg inventar a seguir, ou como se vai safar de determinada situação.
Acredito que não seja um livro que resulte facilmente com todos os amantes de fantasia, especialmente devido à índole moral do protagonista, mas acredito que é bem possível interessarmo-nos e até sermos cativados por um personagem assim, desenhado com muitos tons de cinzento, a cair mais para o negro, ao mesmo tempo que condenamos muitas das suas acções. Isto especialmente quando vemos tudo o que lhe aconteceu com apenas 9 anos, como é o resto da sua família e todos aqueles que o rodeiam. Não desculpando, é difícil ter um bom modelo a seguir nestas condições e no mundo em que vive.

Resumindo e concluindo: Adorei ler este livro, senti-me cativada pelos personagens e pela trama, pelo humor negro de diversas situações. Mal posso esperar por saber qual será o passo seguinte em Rei dos Espinhos.

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